6 de agosto de 2012

As doze palavras ditas e retornadas!




Era uma vez um homem muito trabalhador e honrado, mas infeliz em todo negócio em que se metia. Tinha ele devoção ao Anjo da Guarda, rezando todos os dias em sua intenção. Cada vez mais pobre, o homem perdeu a paciência, e um dia gritou, desesperado com sua triste sina:
— Acuda-me o diabo, que o Anjo da Guarda não me quer ajudar!

Apareceu um sujeito alto, todo vestido de preto, barbudo e feio, com uma voz roufenha e desagradável:
— Aqui estou! Aqui estou! Que é que queres de mim?
— Quero ficar rico.

O diabo indicou uma gruta onde havia um tesouro enterrado, e disse:
— Daqui a vinte anos voltarei para buscar-te. Se não disseres as doze palavras ditas e retornadas, serás meu para toda a eternidade.

O homem começou a viver folgadamente, em festas e alegrias, cercado de amigos e de mulheres.

O tempo foi passando, e uma noite ele lembrou-se de que estava condenado às penas do inferno. Só se soubesse as doze palavras ditas e retornadas...
— Isso deve ser fácil — disse ele consigo. — Todo mundo deve saber.

No dia seguinte perguntou aos amigos, aos vizinhos e a todos os moradores da cidade, e não havia quem soubesse o que vinha a ser o que ele lhes perguntava.

O homem afligiu-se muito. Cada vez mais o tempo passava, e ninguém sabia o segredo das doze palavras ditas e retornadas. Largou ele a vida má que levava, fez penitência e saiu pelo mundo, perguntando. Todos diziam:
— Não sei, nunca ouvi falar...


O homem só faltava morrer, com o pavor da idéia de ter de encontrar-se com o diabo e ser carregado para o fogo eterno.

Já correra muito tempo desde que deixara o folguedo dos ricos, vestindo com modéstia e dando esmolas.

Uma tarde, ia por um bosque na hora da "Ave-Maria". Ajoelhou-se para rezar, e ao terminar viu um velho que se aproximava dele.

Cumprimentou-o, e foram andando juntos para a vila. Perguntou ao velho como ele se chamava.
— Chamo-me Custódio — respondeu.

Para não deixar de perguntar, falou nas doze palavras ditas e retornadas. E o velho Custódio lhe disse:
— Eu sei as doze palavras ditas e retornadas.

O homem ficou tão satisfeito que abraçou o velho, dando graças a Deus e dizendo que aquilo era um milagre do Anjo da Guarda, sua devoção antiga.

— Como são as doze palavras ditas e retornadas? Qual é a primeira, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! A primeira palavra dita e retornada é a Santa Casa de Belém, onde nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, para nos remir e salvar.

— E as duas palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As duas palavras ditas e retornadas são as duas tábuas de Moisés, em que Nosso Senhor pôs seus divinos pés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

— E as três palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo não! As três palavras ditas e retornadas são as três pessoas da Santíssima Trindade, as duas são as duas tábuas de Moisés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

— E as quatro palavras ditas e retornadas, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As quatro palavras ditas e retornadas são os quatro evangelistas, as três são as pessoas da Santíssima Trindade, as duas são as tábuas de Moisés, e a primeira é a Santa Casa de Belém.

— E as cinco palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As cinco palavras ditas e retornadas são as cinco chagas de Nosso Senhor.

— E as seis palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As seis palavras ditas e retornadas são as seis velas bentas que estão no altar-mor de Jerusalém.

— E as sete palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As sete palavras ditas e retornadas são os Sete Sacramentos.

— E as oito palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As oito palavras ditas e retornadas são as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor Jesus Cristo.

— E as nove palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As nove palavras são os nove meses que a Virgem Mãe trouxe Nosso Senhor.

— E as dez, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As dez palavras ditas e retornadas são os Mandamentos da Lei de Deus.

— E as onze palavras, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As onze palavras são as onze mil virgens.

— E as doze, amigo Custódio?
— Custódio, sim; amigo, não! As doze palavras ditas e retornadas são os doze apóstolos, as onze são as onze mil virgens, as dez os Mandamentos, as nove os meses de Nossa Senhora, as oito as bem-aventuranças, as sete os Sacramentos, as seis as velas bentas, as cinco as chagas, as quatro os evangelistas, as três a Santíssima Trindade, as duas as tábuas de Moisés, a primeira a Santa Casa de Belém, onde nasceu quem nos salvou. Amém! Estas são as doze palavras ditas e retornadas.

— De joelhos te agradeço, amigo Custódio, essa esmola, a qual há de salvar-me do demônio!
— Custódio, sim, e teu amigo. Sou o Anjo da Guarda que vem perdoar-te pelo arrependimento e pela penitência.

E sumiu-se. O homem, quando chegou o prazo para prestar contas ao diabo, disse as doze palavras ditas e retornadas, e o maldito rebentou como uma bola de fogo, espalhando cheiro de enxofre.

O homem viveu santamente seus dias, e acabou na paz de Deus, salvando-se graças ao seu Anjo da Guarda.

(Fonte: “Maravilhas do conto popular” - Cultrix, SP, 1960)


Fonte  Aqui

10 comentários:

Luzia Lira Pedagoga disse...

Agora sim que quero rezar mais pelo meu anjo de guarda.
Adorei o texto.


Bjos Luzia

chica disse...

Que legal e eu teria ido pro infeno.

Não aguentaria toda aquela história a toda hora repetida> Custódio, sim, amigo não e ainda repetir cada uma delas.

Eu pediria pra falar mais rápido e... me danaria! Viu só? Não teria pago a penitência e me lascaria!!rs

Calma, paciência são virtudes... beijos,chica

Nana Pinho disse...

Bonita historia, gostei do ensinamento!

BeijO de Nana .
Nana Pinho Em Cores

Dulce Gomes disse...

Foi delicioso ler esta história, vou reler e meditar muito bem nas doze palavras ditas e retornadas.
Obrigada Maria Luiza pelas suas partilhas
Dulce

Blog Almas Castelos disse...

Gostei muito da postagem e das fotos. Felicidades a toda a familia
Jorge do Blog Almas Castelos

Cores do caminho disse...

Oi Maria Luiza, vim agradecer sua presença la no "Cores" volte quando puder, seras sempre bem vinda.
Que historia heim? O arrependimento o salvou.
Bjks e otima semana

Liz - Como as Cerejas da Minha Janela... disse...

Oi, Malu! achei sem querer este blog teu. Não sabia dele. Linda e comovente história. Sabe que esta semana estava pensando em postar a história do bom samaritano no meu blog. É uma passagem da vida de Cristo que muito me marcou. No meu blog posto muito também sobre espiritualidade, mas textos que eu escrevo. Não sei se voce já leu algum. Mas no meio posto também outros assuntos que eu gosto, como cinema, literatura, poesias, etc. Não sou mais religiosa, mas muito espiritualista. E tudo o que faz bem pra minha alma e coração, eu abraço e levo comigo, pois sei que só isso levarei comigo...

Foi bom te encontrar aqui. Lindo blog! bjs com carinho!

Ivani disse...

que maravilha esses contos populares!
esse nos ensina que de nada adianta querer o poder e o dinheiro, sendo que a verdadeira alegria esta na humildade e no saber dar e receber.
paciencia é o segredo da alegria.
tenho estado preocupada MariaLuiza, pois minha nora anda doente.
amanhá de manha passara por cirurgia.
tudo acabará bem pois estamos todos unidos em uma corrente de amor e esperanca.
nada muito grave, mas como a gente se preocupa quando gosta, nao é mesmo?
beijos querida, tenha uma ótima semana.

Lucinha disse...

Maria Luiza,

Menina, eu já gostava do meu anjo da guarda, agora então, que vou amar muito mais.Rs

Muito interessante esse história que nos prende até o fim. E a curiosidade para saber qual as dozes palavras ditas. Vai lá que eu precise um dia delas. Rs

Apesar de ser dito um conto popular, o sentido disso tudo.

Um lindo e abençoado dia pra você. Beijos

Roselia Bezerra disse...

Olá, queria Maria Luíza
Como somos impacientes!!!
A serenidade é uma grande virtude, certamente!!!
Quando lia "amigo não" inúmeras vezes... pensei em como se pode considerar mesmo uma pessoa amiga... é raro!!
Também não o somos igualmente...
tenho grande devoção pelo meu Anjo da Guarda, me dá livramentos inúmeros...
Bjs festivos de paz

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